O culto do Coração de Jesus e a nossa Dehonianidade

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•    Rezemos com o Venerável Padre Leão Dehon

Meu Bom Mestre, guia-me às fontes vivas da graça, ao teu Coração adorável, para que eu obtenha, por meio da contemplação e dos sacramentos, um amor sempre maior e mais constante por ti; e possa consolar o teu Coração Divino que é tão desprezado e ultrajado. Amém.

•    Ouçamos o Evangelho de Jo 19,21-37

Era o dia da preparação para a Páscoa. Os judeus queriam evitar que os corpos ficassem na cruz durante o sábado, porque aquele sábado era dia de festa solene. Então pediram a Pilatos que mandasse quebrar as pernas aos crucificados e os tirasse da cruz. Os soldados foram e quebraram as pernas de um e depois do outro que foram crucificados com Jesus. Ao se aproximarem de Jesus, e vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas; mas um soldado abriu-lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. Aquele que viu dá testemunho, e seu testemunho é verdadeiro; e ele sabe que fala a verdade, para que vós também acrediteis. Isso aconteceu para que se cumprisse a Escritura, que diz: “Não quebrarão nenhum dos seus ossos”. E outra Escritura ainda diz: “Olharão para aquele que transpassaram”.

•    Meditemos a Palavra de Deus

Para o quarto evangelista, Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, pois a sua morte aconteceu no dia e horário em que eram sacrificados os cordeiros da festa da Páscoa no Templo. Ele afirma que do lado de Jesus aberto pela lança “saiu sangue e água” e vê nisto um mistério que ultrapassa o mero fenômeno fisiológico. Por isso, o sangue e a água emergem como símbolos dos sacramentos da Eucaristia e do Batismo. Sendo assim, esse texto joanino revela-se o mais importante entre os textos bíblicos referentes ao culto do Coração de Cristo (cf. Mt 11,29; Jo 4,14; 7,37-39; 20,27; Ap 1,7).

•    Acolhamos a história do culto ao Sagrado Coração de Jesus

O culto ao Coração de Jesus fundamenta-se na contemplação de João Evangelista aos pés da cruz. A partir daí, o lado transpassado se tornou a expressão mais forte da experiência do amor de Deus na Igreja. O seu culto se aprofundou com a contemplação do Crucificado por místicos como Gertrudes de Helfta, Matilde de Magdeburg, Angela de Foligno, Boaventura de Bagnoregio e Bernardo de Claraval. Olhando e rezando as chagas de Jesus, fixaram-se naquela do lado aberto e penetraram no seu coração, vistos como sinal do seu amor pelo Pai e pela humanidade. No entanto, Santa Margarida Maria Alacoque foi uma das principais místicas da Igreja a propagar a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. A partir da França do séc. XVII, a sua missão consistiu em dar difusão universal à uma renovada espiritualidade centrada no coração do Salvador. Ela teve uma revelação de Jesus que lhe disse: “Meu coração Divino está inflamado de amor pelos homens e por ti. Preciso difundir as chamas do meu coração para enriquecer a todos com os preciosos tesouros do meu coração”. A partir dessa experiência mística de Santa Margarida, estabeleceu-se a devoção da Primeira Sexta-feira do mês, a Comunhão reparadora e a Solenidade em honra ao Sagrado Coração de Jesus.

•    Vivamos a herança do Padre Dehon

O Padre Leão Dehon acolheu a herança da mística centrada na contemplação do Coração de Jesus. Por isso, escreveu: “Jesus Cristo nos mistérios da Paixão é verdadeiramente o livro escrito por dentro e por fora; e quais são as palavras que nós lemos? Apenas esta: Amor. Os flagelos, os espinhos, os cravos escreveram esta palavra com letras de sangue sobre a sua carne divina; não nos contentemos de amar apenas do exterior. Se penetrarmos até o coração, veremos uma maravilha maior ainda: o amor inextinguível que considera um nada o próprio sofrimento e se doa sem jamais se cansar. A graça própria dos amigos do S. Coração é sempre saber descobrir sob o véu dos mistérios o amor de Nosso Senhor” (CAM, OSP 2, p. 305s).

As nossas Constituições afirmam que “com o apóstolo São João, vemos no Lado aberto do Crucificado o sinal do amor que, na doação total de si mesmo, recria o homem segundo Deus. Contemplando o Coração de Cristo, símbolo privilegiado desse amor, somos fortalecidos em nossa vocação. Somos, com efeito, chamados a inserir-nos nesse movimento de amor redentor, doando-nos aos irmãos com Cristo e como Cristo” (Cst n. 21).

A contemplação do “Lado aberto do Crucificado” e do “Coração de Cristo” nos convida a viver a oblação até o dom total de nós mesmos em união à oblação reparadora do Salvador na cruz. Esta é a experiência do Padre Dehon vivida à luz da experiência do próprio São João evangelista a quem considera seu “mestre e modelo”: “São João, sendo o apóstolo do amor, o apóstolo do Sagrado Coração, é necessariamente o patrono e o modelo dos Sacerdotes do Sagrado Coração. Ele foi o discípulo predileto do Coração de Cristo” (DE, Parte II, cap. IV, § 1).

Com o Padre Dehon, reconhecemos o caminho do amor de Deus até nós e o nosso caminho no amor até Deus na interioridade de Cristo, expressa no seu Coração: “Me disponho a percorrer o nosso caminho de amor até Ele, o caminho de um amor ardente ao Sagrado Coração. É para mim o único caminho no qual posso avançar com segurança” (NQT XIX, 69-70). Para ele, essa “vida de amor” era o melhor caminho para se chegar ao “puro amor” que se traduzia na oblação da própria vida. Nesta espiritualidade do Coração de Cristo aberto na cruz, ele encontrou a expressão mais forte do amor redentor de Deus pela humanidade. Nas suas últimas palavras, encontramos uma vibrante profissão de fé, que sintetiza uma história de profunda espiritualidade e aponta para o seu horizonte definitivo no encontro com o Senhor na eternidade: “Por Ele vivi, por Ele morro”.

Herdeiros da experiência de fé do nosso Fundador e buscando frutificar o seu carisma na Igreja, vivemos uma espiritualidade e assumimos uma missão. A espiritualidade dehoniana é experiência pessoal e comunitária do amor de Deus manifestado no Coração de Cristo aberto na cruz. Ela é vida de amor, união a Cristo e à sua oblação. A missão dehoniana começa na comunidade fraterna na qual se procura viver o amor, testemunhar e servir à comunhão. Ela é reparação que procura remediar as insuficiências pastorais da Igreja e curar os males do mundo.
    
Pe. Gimesson Eduardo da Silva, SCJ
Reitor do Seminário SCJ de João Pessoa-PB
Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma


 
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