XVII Domingo Tempo Comum: Mt 13,44-52 - A alegria do Reino: encontrar, procurar, separar

Por: Dom André Vital Félix da Silva, SCJ

As três parábolas contadas por Jesus no evangelho deste Domingo coroam o seu ensinamento sobre o Reino dos Céus. Mateus nos leva a refletir sobre três passos fundamentais na experiência de toda pessoa humana que busca a alegria plena, isto é, o maravilhar-se diante do dom, o desinstalar-se para ir à procura, e a sabedoria do discernimento que faz crescer o dom recebido e os bens adquiridos.  
Na primeira parábola, o Reino dos Céus é comparado a um tesouro escondido descoberto por um homem. Encontrando o inesperado, esconde-o, e cheio de alegria, é capaz de refazer toda a sua perspectiva de vida, até então ancorada e garantida pelo que possuía, a ponto de vender tudo a fim de adquirir aquele terreno. Certamente, o homem é um camponês que trabalha numa terra que não é sua, e tudo o que possui depende desse seu trabalho. Chama atenção o fato de que mesmo tendo encontrado um tesouro, o camponês não o leva consigo, pois esta não seria a forma honesta e legal de possuí-lo, resultaria para ele num furto, pois da terra lhe era permitido apenas tirar o seu ganha pão como fruto do seu trabalho. Porém, ele ali encontra um tesouro, e, portanto, numa certa lógica, é dele, mas ele tem consciência de que o tesouro pertence à terra e não ao seu trabalho. Destarte, a terra e tudo o que nela se encontra são do seu proprietário. 
Há, portanto, apenas uma saída: comprar a propriedade para dela e de tudo o que a ela pertence ser o legítimo dono. Conclusão, a primeira atitude para empreender o caminho rumo à felicidade verdadeira é maravilhar-se com o tesouro que nos é dado encontrar, acolhê-lo sem roubá-lo, isto é, reconhecendo e respeitando os meios para dele usufruir e conquistar. 
Toda pessoa humana inicia a sua vida encontrando gratuitamente tesouros: sua família, seus pais, enfim, sua própria vida. Ninguém de nós comprou nada disso, nem mesmo buscou. No entanto, tudo nos foi dado como dom. E o grande desafio é reconhecê-lo e, ao mesmo tempo, valorizá-lo. Feliz é quem não rejeita os dons recebidos no início da existência, mas os acolhe, e se for necessário, reconcilia-se com eles para poder colher muitos frutos no decorrer da sua existência.
A segunda parábola: o comprador de pérolas preciosas nos faz refletir sobre uma outra atitude fundamental na experiência humana que é destinada à plenitude: o permanente estado de busca. Se na parábola do camponês a característica marcante era o maravilhar-se diante de um achado que talvez nem fosse objeto de buscas e procuras conscientes, agora a atitude do protagonista da parábola é mais direcionada. Ele está procurando pérolas preciosas; ele sabe o que procura, e é capaz de discernir o que tem valor apreciável daquilo que não vale a pena investir. Não se surpreende com o que encontra, pois está buscando justamente aquilo. Mas sabe fazer a escolha certa. 
Se para o camponês o fato surpreendente foi encontrar um tesouro escondido, para o comprador, a busca por pérolas preciosas já fazia parte da sua lida cotidiana, uma vez que sem a alegria da certeza de encontrá-las, a disposição suficiente para procurar não o convenceria na sua tentativa. 
O grande desafio para a busca permanente do ser humano é ter a clareza para onde o caminho optado está conduzindo. O comprador buscava pérolas preciosas, isto é, não estava atrás de algo que não conhecia ou que não existia, mesmo admitindo não ser tão simples e fácil encontrar pérolas que fossem, de fato, preciosas, finas ou mesmo boas. 
As duas parábolas são coroadas com a da rede de pesca para ressaltar que tanto os dons recebidos (tesouro escondido) como os bens adquiridos (pérolas preciosas) precisam ser considerados numa perspectiva da construção do Reino dos Céus que, por sua vez, exige discernimento, escolhas, opções decididas. Tal discernimento não significa apenas capacidade seletiva que, por sua vez, pode resultar em exclusão injusta, mas implica coragem para abrir mão e lançar fora o que não presta, tudo aquilo que contradiz a opção fundamental pelo Reino. Os evangelhos quando narram o chamado dos primeiros discípulos sintetizam essa decisão afirmando: “E deixando tudo O seguiram” (Lc 5,11).
Nunca se falou tanto em discernimento, inclusive vocacional, do que em nossa época. Mas quantas pessoas jazem nas suas eternas indecisões, incapazes de fazer opções duradouras, firmes e corajosas, pois estão imersas no terreno movediço da ausência, da falta, e não no terreno consistente da opção livre, consciente e responsável. Os pescadores da parábola têm uma árdua missão: separar o que presta do que não presta. Parece algo tão objetivo: peixe bom e peixe ruim. No entanto, exige-se critério e sabedoria para realizar a tal separação. 
Não estamos diante de atitudes arbitrárias cujo discernimento se apoia no subjetivismo emocional, mas na capacidade amadurecida de quem optou pela verdade do Reino e não pelas comodidades do politicamente correto, pois tem convicção de que tudo na vida tem suas consequências. Quem não se presta a um discernimento contínuo e permanente para recolher o bom e deitar fora o ruim de si mesmo, das circunstâncias e dos relacionamentos não presta para o trabalho da implantação do Reino.



Dom André Vital Félix da Silva, SCJ
Bispo da Diocese de Limoeiro do Norte – CE
Mestre em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana