XVI Domingo Tempo Comum: Mt 13,24-43 - A paciência destrói a aparência

Por: Dom André Vital Félix da Silva, SCJ

No centro do anúncio de Jesus se encontra a sua paixão pelo Reino do seu Pai. Toda a sua vida, os seus ensinamentos, as suas atitudes tornavam visível esse reinado de Deus como um projeto de vida para as pessoas que, por sua vez, eram convidadas a acolhê-lo e tornarem-se também elas seus arautos e instrumentos a fim de que se expandisse por toda a terra a justiça, a fraternidade e a paz; são estas as colunas de sustentação do Reino. As parábolas deste Domingo nos apresentam as características fundamentais do Reino dos Céus, sublinhando a sua radical vitalidade, a sua força propulsora e o seu dinamismo de expansão.
O que Jesus diz sobre o Reino não se limita a conceitos teóricos para levantar hipóteses de organizações utópicas da sociedade, nem muito menos uma descrição bucólica daquilo que não se pode conhecer de modo objetivo e direto. O Reino dos Céus, por certo, transcende a nossa esfera circunstancial, mas tem suas raízes no nosso chão, no nosso horizonte histórico, onde Deus se fez carne, assumindo o que somos.
A parábola do trigo e do joio evidencia a necessidade de discernimento na implantação do Reino. A imagem utilizada por Jesus é muito eloquente: o joio é uma erva daninha, porém, tem aspectos semelhantes ao trigo, podendo o seu talo ser facilmente confundido com a espiga de trigo. Porém, seus efeitos são narcóticos (botânica: lolium temulentum), provocam adormecimento, por conseguinte, acomodação, passividade; se ingerido, mesmo em pouca quantidade, provoca náuseas e enjoos. Por outro lado, o trigo que representa o Reino é semente que se transforma em alimento para dar força e vitalidade ao ser humano, e por isso produz alegria para quem dele se nutre. Se o joio produz estagnação, alienação, indiferença, o trigo produz energia, vigor, disposição para trabalhar.
Portanto, Jesus adverte os seus discípulos a estarem atentos para não confundirem as diversas expressões do Reino apegando-se apenas a aparências, é preciso aguardar os frutos. Ele mesmo ensinou que a árvore se conhece pelos seus frutos, pois nem tudo aquilo que se mostra pertencente ao Reino, de fato, contribui com o Reino. Quando o joio cresce junto ao trigo ambos são bem semelhantes, contudo, quando produzem os grãos é possível distingui-los. Fazer a separação enquanto crescem é muito arriscado. Por isso, o dono do roçado não permite aos seus empregados a separação antes dos frutos. Apesar de o joio e o trigo estarem tão próximos e até mesmo entrelaçados em suas raízes, o joio não é capaz de destruir o trigo; no momento adequado ele será apartado. A paciência no julgar lança as bases da verdadeira justiça.
A parábola do grão de mostarda aponta para a pequenez do Reino, mas ao mesmo tempo para a sua capacidade de crescimento. Reproduz de maneira plástica a própria biografia humana, isto é, ninguém nasce grande, mas pode tornar-se. Cada cristão é depositário desta pequena semente da fé, mas que se acolhida, pode se manifestar como grande força de transformação do mundo e da sociedade. O evangelho, apesar de ser um anúncio revestido de humildade e simplicidade, possui uma força de expansão que testemunha a sua grandeza pois é proclamação de salvação universal, e isto diz respeito a toda pessoa humana.
Por fim, Jesus ilustra seu ensinamento com a parábola do fermento para ressaltar a eficácia do anúncio do evangelho para a implantação do Reino dos Céus. A imagem do fermento na massa reitera a convicção de que a força de transformação do evangelho não se manifesta de modo ostensivo, através de ações religiosas de vitrine, mas atua de modo profundo; a sua eficácia depende da sua força de penetração, e não tanto de uma garantia de visibilidade. Quando o evangelho se reduz a tema de espetáculos, perde a sua força de transformação no horizonte da vida; deixa de ser impulso para ação e fica apenas como garantia de emoção. 
À medida em que o fermento vai se misturando com a massa, a ponto de não ser mais visto, é que estará garantido o crescimento do pão; a transformação não acontece na superficialidade, mas quando atinge a dimensão mais profunda da realidade, pois fermento não é cosmético para mudar aparências, mas instrumento para transformar existências. 
O Reino dos Céus é a paixão de Jesus, por isso Ele não teve medo de dar a vida para fazê-lo acontecer entre nós. Comprometer-se com a sua implantação exige de nós sair da multidão curiosa, sem rosto e sem convicção, para assumir o discipulado, o seguimento daquele que espalha a semente incansavelmente, mesmo sabendo que há inimigos lançando joio, é crer na pequenez de uma semente que traz em si uma força grandiosa de transformação, é não ter medo de se misturar a ponto de perder a própria visibilidade para que os outros cresçam e se tornem alimento saudável para a vida do mundo.



Dom André Vital Félix da Silva, SCJ
Bispo da Diocese de Limoeiro do Norte – CE
Mestre em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana